quarta-feira, 22 de junho de 2011

Prioridade para o segmento econômico


Fonte: Focando.com.br

Influenciado pelo crescimento da demanda interna a partir da ascensão da classe C, o setor hoteleiro vem aumentando a velocidade de sua expansão no Brasil, tomando como prioridade a categoria econômica.

Especialistas explicam que a proximidade dos megaeventos que serão realizados no País ajuda a impulsionar este mercado, ao acelerar a construção de empreendimentos, mas não é necessariamente o principal atrativo para os investidores.

A previsão é que sejam investidos R$ 7,3 bilhões até 2014 para a construção de 198 hotéis no Brasil, totalizando 46.296 apartamentos e geração de 31.729 empregos diretos.

As informações constam do levantamento da BSH Travel Research, que indica ainda que a maior quantidade de inaugurações e, consequentemente, de novas unidades habitacionais e geração de empregos, deve se concentrar nos anos de 2011 e 2013.

“O grande interesse hoje é o investimento no segmento econômico, voltado à classe C. A ascensão significativa da classe fez com que o foco hoteleiro se voltasse para atingir essa demanda”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional), Enrico Fermi Torquato. “A grande aposta atual é centrada neste novo consumidor que está chegando ao mercado e que prioriza conhecer o País antes de fazer viagens internacionais”, acrescenta Torquato.

De acordo com pesquisa feita pela BSH, 198 novos empreendimentos hoteleiros deverão ser inaugurados no País até 2014.

Do total, os projetos ligados à categoria econômica detêm fatia de 39%, a maior entre todos os outros segmentos. Na Região Sudeste, o percentual é ainda maior, já que 50% dos projetos são de econômicos.

Para Colbert Martins, secretário nacional de Programas de Desenvolvimento de Turismo, do Ministério de Turismo (MTur), com a emergência da classe C, as viagens domésticas aumentaram muito, facilitadas também pelo acesso ao transporte aéreo.

“O crescimento econômico do País é a grande resposta para a demanda atual. O déficit de leitos em algumas cidades é exemplo desse movimento”, explica Martins. Ele destaca ainda a mudança de comportamento promovida pelo aumento da expectativa de renda. “Em vez de ir para casa de amigos ou parentes, os brasileiros passaram a frequentar hotéis”, enfatiza.

A real necessidade de todas as construções previstas até 2014 é, entretanto, discutida por alguns especialistas, na tentativa de evitar que possíveis leitos ociosos levem prejuízos às redes, após a realização dos grandes eventos no País.

De acordo com o ex-ministro do Turismo e presidente da São Paulo Turismo, Caio Carvalho, a alternativa é o fortalecimento não apenas do turismo interno, mas também entre os países vizinhos na América do Sul. “Essa opção é válida porque é menos sazonal do que a dependência das competições esportivas ou grandes shows, tornandose uma garantia maior para os empresários”, diz.

Considerando as redes hoteleiras com objetivo de investir no País, a Accor Hospitality é a que pretende abrir mais empreendimentos (73), com a maior quantidade de Unidades Habitacionais (UHs), 10.417.

Em seguida, aparecem a Atlantica, com 24 empreendimentos; a Allia Hotels, com sete hotéis, a Blue Tree Hotels, com cinco, InterCity, com quatro, e BHG, com três construções.

No mapa de investimentos para o período de 2011 a 2014, é na Região Nordeste que está a maior quantidade de apartamentos, com 25.350 unidades.

“O Nordeste supera em leitos porque 77% de seus projetos são resorts e, normalmente, eles oferecem maior estrutura e UHs que outras categorias, bem como necessitam de mais colaboradores”, explica o presidente e fundador da BSH International, José Ernesto Marino Neto.

O Sudeste, porém, concentra o maior número de hotéis previstos para os próximos três anos. Serão 76 dos 189 empreendimentos planejados no País, que irão ofertar 12.998 unidades habitacionais. A estimativa, ainda segundo a pesquisa, é que sejam investidos aproximadamente R$ 2,1 bilhões nas 76 construções, que serão responsáveis pela geração de 7.073 empregos após inauguradas.

Somente o Rio de Janeiro, cidade sede da Copa de 2014 e anfitriã da Olimpíada de 2016, concentrará 17 novos empreendimentos, a maior quantidade prevista entre todas as cidades do País. “O alto número leva em conta, além da realização dos eventos esportivos, a necessidade de diversificação da oferta atual, que é restrita em períodos de alta ocupação, e a importância financeira na rota do petróleo”, destaca o levantamento.

O secretário estadual de Turismo do Rio de Janeiro, Ronald Ázaro, explica que, durante muito tempo, a construção de hotéis na capital ficou desestimulada, principalmente por conta de uma legislação muito rígida.

Com isso, sua capacidade hoteleira não conseguiu acompanhar o rápido crescimento econômico do País e o potencial turístico da cidade, intensificado principalmente após a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

“Havia realmente um déficit entre oferta e demanda na cidade, mas, a curto prazo, não há dúvidas de que vamos conseguir atender toda essa grande demanda potencial de turistas”, diz Ázaro. Ele cita que, embora a ocupação média dos hotéis na cidade gire em torno de 72% atualmente, há épocas, como o fim de ano, em que alcança os 100%.

FINANCIAMENTO. Com objetivo de atender ao número maior de solicitações de financiamento para construções e reformas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou, no início do mês, que planeja dobrar o orçamento do ProCopa Turismo até o fim do ano. O programa, que atualmente conta com R$ 1 bilhão em crédito, passará a disponibilizar R$ 2 bilhões.

A linha foi lançada em fevereiro de 2010 e deve vigorar até dezembro de 2012. Podem pleitear financiamento empresas de qualquer cidade do País.

Atualmente, a carteira de projetos do programa soma R$ 283 milhões, dos quais R$ 211 milhões se referem a iniciativas já aprovadas. Na lista constam também projetos de reforma, como a do Hotel Glória, do Grupo EBX, no Rio de Janeiro.

Além do ProCopa, lembram os especialistas, outras opções de financiamento são os fundos constitucionais regionais, que já dispõem de R$ 1,3 bilhão para empréstimos. O Fundo Constitucional de Financiamento do Norte, o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste e o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste têm a função de impulsionar o desenvolvimento dessas regiões.

O Banco do Brasil, o Banco da Amazônia e o Banco do Nordeste são responsáveis pela concessão de empréstimos com os recursos dos fundos.

“O governo brasileiro está fazendo todos os esforços para que não haja problemas de falta de leitos na ocasião dos eventos”, enfatiza o secretário nacional do MTur. “Prova disso são as linhas de financiamento com BNDES, o BB e outros bancos”, acrescenta.

Na avaliação do presidente da ABIH Nacional, entretanto, embora os fundos constitucionais apresentem condições ainda melhores que as do BNDES, seus termos de garantia e as exigências afastam o pequeno e médio investidor. “Tornaram-se uma linha de crédito somente para grandes investidores, para quem já tem recursos”, afirma.

Com a disponibilidade dos financiamentos, o Ministério do Turismo espera que a rede hoteleira nacional se adeque aos novos critérios estabelecidos no Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass), que acompanha o padrão internacional.

A nova classificação, desenvolvida pelo Ministério do Turismo em parceria com o Instituto Nacional de Metrologia e Qualidade Industrial (Inmetro), passará a valer no próximo mês.

O sistema adota a simbologia de estrelas, em uma escala que varia de uma a cinco, para identificar as categorias nas quais serão classificados os tipos de hospedagem.

A utilização do símbolo, de acordo com a portaria, será exclusiva dos empreendimentos submetidos ao processo de classificação.

Para Torquato, o sistema levará competitividade ao setor.
“É um aval para quem está sempre buscando qualidade”, diz. Já o ex-ministro do Turismo alerta que a medida funcionará apenas se houver fiscalização ativa e constante, além de orientação a quem gerencia os empreendimentos, planos de auxílio e incentivo às melhorias. “Todo esse movimento ainda está muito no começo, mas acho que só tem a acrescentar”, comenta Carvalho.

DESAFIOS. A qualificação da mão de obra é apontada como um dos principais entraves por não ter acompanhado a velocidade de crescimento do setor.

Para modificar esse cenário, o Ministério do Turismo investiu R$ 440 milhões para qualificar 306 mil profissionais, por meio do programa Bem Receber Copa.

“Com a iniciativa, teremos nível de excelência nos serviços, tendo em vista que o “bem receber” já faz parte do dia a dia do brasileiro”, afirma o presidente da ABIH.

Segundo o secretário nacional do Mtur, os investimentos poderão aumentar, se necessário.

“O programa é só o começo. A decisão da presidente Dilma Rousseff é que, se for preciso, ampliaremos a capacitação”, diz Martins. Segundo dados do ministério, em 2010 o Bem Receber ofereceu 75 mil vagas para 63 cursos nos 12 estados onde serão realizados os jogos da Copa de 2014.

Além da capacitação, outro gargalo a ser solucionado diz respeito à infraestrutura, de acordo com o ex-ministro do Turismo. “Precisamos de mais atenção principalmente sobre a questão aeroportuária, que é um dos maiores problemas”, diz Caio Carvalho.

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