sábado, 20 de fevereiro de 2010

O sossego (ainda bem) acabou


Após décadas de letargia, Santos deixa para trás a aura de cidade de aposentados e pode ganhar quase 60 000 empregos com o impulso de uma nova expansão do porto e os investimentos no pré-sal.


Por André Faust

Apesar de seu movimentado porto, o principal do país, a cidade paulista de Santos atravessou as últimas décadas cultivando uma imagem de destino pacato. Praias com o que é considerado o maior jardim de orla marítima do mundo, velhos bondinhos elétricos e um centro histórico de notável riqueza arquitetônica compõem sua paisagem. A grande presença de turistas e moradores da chamada terceira idade rendeu-lhe a reputação de cidade aprazível para aposentados. A face indesejável dessa tranquilidade era uma letargia econômica que fez Santos perder posições no ranking dos maiores centros urbanos do estado de São Paulo - de segunda maior cidade há 60 anos, hoje disputa o décimo lugar. Durante boa parte da década de 90, o desemprego atingiu 20% dos santistas. Entre 1991 e 1996, a população chegou a diminuir 5%, e depois permaneceu estagnada por vários anos.

Mas esse é um quadro econômico que vem mudando e, com isso, transformando o dia a dia da cidade. Em vários pontos de Santos, ouve-se agora o barulho de máquinas e operários trabalhando em obras que começam a tomar forma. Nas fachadas de edifícios ainda em fase de construção, cartazes anunciam a chegada de empresas dos mais diversos ramos, como o atacadista Makro, a construtora Rossi, uma revenda de automóveis Land Rover, hotéis Ibis e a churrascaria Fogo de Chão. A atração de empresas de fora e a ebulição dos negócios no setor imobiliário são o início de uma corrida para aproveitar as oportunidades abertas com a retomada do crescimento em Santos. O impulso vem de uma nova fase de expansão do porto e da escolha da cidade como sede da unidade de operações da Petrobras no pré-sal. Juntos, os dois empreendimentos deverão gerar quase 60 000 novos empregos ao longo da próxima década e consolidar a virada que a cidade vem tentando dar há tempos. "Santos vive hoje o melhor cenário de seus últimos 50 anos", diz o prefeito João Paulo Papa.

A revitalização do antigo centro precedeu a retomada da economia. Aos poucos, são apagados os traços de violência e pobreza que marcaram os anos de letargia. Quem caminha pelo centro hoje vê edifícios históricos, como a Bolsa Oficial do Café, que viveu seu auge nos anos 20 do século passado, e o Palácio José Bonifácio, sede da prefeitura e da Câmara Municipal, reformados e bem conservados. Construções modernas já dividem espaço com os prédios centenários. É no centro, num ponto próximo ao cais, que a Petrobras, construirá sua sede regional, um complexo de três torres com mais de 15 pavimentos. Bares e restaurantes recém-inaugurados também dão vida nova ao bairro. Estima-se que, somente nos últimos cinco anos, mais de 1 200 estabelecimentos comerciais tenham aberto portas na região. A leva que agora chega inclui lojas, shopping centers, escritórios e apartamentos para abrigar as famílias de novos executivos e profissionais que a cidade deve receber.

O mercado imobiliário é o primeiro a refletir a esperada onda de desenvolvimento. Em bairros como o da Ponta da Praia, vizinho ao porto, é difícil não notar a efervescência. Torres residenciais de alto padrão com mais de 30 andares estão alterando a paisagem de uma área até pouco tempo atrás ocupada apenas por galpões e armazéns envelhecidos. A geografia da cidade molda o boom dos imóveis. Espremida entre morros e a vizinha São Vicente, e com menos de 40 quilômetros quadrados de área insular, Santos já não tem mais para onde crescer. Há enorme escassez de terrenos novos - para construir, é preciso derrubar. Além de um grande mercado para empresas de demolição, o efeito desse fenômeno sobre a valorização dos imóveis é avassalador. Em regiões da cidade como o tradicional bairro do Gonzaga, os preços subiram até 70% em três anos. Ali, o metro quadrado construído chega a custar 6.000 reais, valor comparável ao de bairros nobres de São Paulo, como Moema, na zona sul da cidade.

Em busca de novos mercados, grandes construtoras da capital estão descendo a serra e invadindo uma praia até pouco tempo dominada quase exclusivamente por empreendedores santistas. Entre os locais, destaque para o Grupo Mendes, do empresário português Armênio Mendes. Em 30 anos de baixa concorrência, ele construiu mais de 10 000 apartamentos na cidade. Shoppings, hotéis, motéis, edifícios comerciais e um centro de convenções também compõem o patrimônio da empresa. "A competição está acirrada", afirma Mendes. "Isso não existia." Aos 65 anos de idade, até pouco tempo atrás ele era considerado uma espécie de senhor absoluto do mercado local - o que deve mudar daqui para a frente. Só a construtora Helbor tem cinco empreendimentos planejados na cidade até 2012. A Gafisa lançou em junho seu primeiro condomínio. A Tecnisa prepara dois lançamentos para o ano que vem. "Os investimentos públicos e privados, o aumento populacional e a alta do emprego formam uma ótima combinação para o aquecimento do mercado imobiliário", afirma Klausner Monteiro, diretor da Rossi Vendas, que já lançou dois empreendimentos na cidade e tem outros dois em desenvolvimento.

A ESCALADA TAMBÉM É EVIDENTE NO consumo. Há dois anos, um hipermercado da rede Extra, do grupo Pão de Açúcar, localizado em uma das principais avenidas santistas entrou para o grupo das três lojas da marca com os maiores faturamentos entre as mais de 100 unidades espalhadas no país. Em fevereiro, será a vez da rede de varejo holandesa Makro abrir sua primeira unidade local. Um novo shopping (o quarto de Santos) foi inaugurado em dezembro com 80 lojas e quatro salas de cinema. Outro shopping, o Praiamar, está prestes a fechar contratos de locação com 17 novas lojas antes mesmo do início das obras de sua ampliação. A maioria dos interessados é de franquias que ainda não têm presença na cidade. "Antes tínhamos de ir atrás dos lojistas. Agora, as grandes redes é que nos procuram dizendo que precisam de um ponto em Santos", afirma Paulo Mendes, diretor do Praiamar. Em toda a cidade, há pelo menos 11 novos edifícios comerciais em construção. O Hospital São Luiz, que possui três unidades em São Paulo, manifestou a intenção de instalar lá sua primeira uni-dade fora da capital paulista. O grupo Accor Hospitality prepara o lançamento de dois hotéis, das bandeiras Mercure e Ibis. Nesse caso, as atenções estão voltadas para o mercado local de feiras e congressos, que tem crescido a uma taxa de 15% ao ano.

Um dos grandes motores do novo ciclo de desenvolvimento, a ampliação do porto reflete o ganho de importância política e econômica daquele que já é o maior entreposto de carga da América Latina. Por ali passa hoje quase um terço da balança comercial brasileira. Com os novos investimentos, da ordem de 5 bilhões de reais, o porto de Santos caminha para se tornar o primeiro hub port do país, especializado em concentrar e redistribuir por mar um grande volume de mercadorias. Até 2024, a movimentação deverá praticamente triplicar, passando das 89 milhões de toneladas previstas neste ano para 230 milhões de toneladas anuais - o equivalente ao que movimenta hoje o porto de Hong Kong, um dos maiores do mundo.
Para isso, investimentos públicos precisarão resolver gargalos estruturais. A fim de comportar um número maior de navios, o canal de navegação deverá ser aprofundado e alargado. A construção da avenida Perimetral, uma obra para tornar mais ágil o tráfego de caminhões a caminho do cais, está em fase adiantada. Outra frente de investimento é a ampliação e a construção de novos terminais por grupos privados. Em um desses projetos, a operadora belga Europe Terminal NV deve investir 1,6 bilhão de reais para montar em uma área hoje degradada do porto o Brasil Terminal Portuário, que movimentará contêineres e granéis líquidos. O complexo, previsto para operar em 2012, é um dos maiores projetos da companhia, dona de 42 terminais ao redor do mundo. Outros três empreendimentos semelhantes de investidores estrangeiros estão previstos para os próximos 15 anos. Além dos investimentos na expansão da capacidade de carga, o porto deverá receber obras de melhoria no terminal de passageiros. A ideia é acompanhar o crescimento do turismo de cruzeiros no país. Só na última temporada, passaram pelo píer santista 769.000 passageiros de navios - 31% mais que no ano anterior.

Apesar da euforia dos novos tempos, Santos ainda tem pela frente problemas a resolver. O nível de desemprego, em torno de 10%, está acima da média nacional. A ocupação desordenada e o crescimento de favelas sobre leitos de rios e áreas de mangue, em especial na região noroeste da cidade, contribuem para a poluição do estuário e comprometem o turismo. A baixa qualificação da mão de obra local pode se transformar num dos principais obstáculos ao desenvolvimento da cidade. Santos tem hoje 35 000 estudantes e seis instituições de ensino superior. Em dezembro, a prefeitura e o governo do estado firmaram convênios para a instalação do Parque Tecnológico de Santos. Com a iniciativa, os governos esperam atrair empresas de pesquisa em energia, petróleo e gás e necessidades portuárias. No ano passado, a Unisanta, uma das primeiras universidades do município, passou a oferecer graduação em Engenharia de Petróleo, Gestão de Qualidade de Petróleo e Gás e Logística Portuária. Em apenas um ano, a procura pelos cursos aumentou 15%. "A cidade precisa oferecer a formação necessária para a nova demanda de empregos", afirma Aureo Figueiredo, diretor da Unisanta. Para as novas gerações de santistas, sem desdenhar a contribuição dos aposentados, nada como estar de volta ao mapa da criação de trabalho.

SANTOS HOJE
A cidade tem bom nível de renda, mas ainda faltam postos de trabalho.

POPULAÇÃO: 433 000
PIB: 19,7 bilhões de reais
RENDA PER CAPITA: 47 100 reais (60ª entre as cidades do país)
IDH(1): 0,87 (5ª melhor cidade do país)
TAXA DE DESEMPREGO: 10,8% (a média nacional é 7,7%)
FROTA DE VEÍCULOS: 224 545 (0,5 por habitante; a média nacional é 0,3)

(1) Índice de Desenvolvimento Humano — varia de 0 a 1;
quanto mais alto o número, melhor Fontes: Seade/Dieese,
Pnud, prefeitura de Santos e Denatran

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