sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Construtora desiste de projeto no Jockey


Oposição de parte dos sócios faz construtora suspender empreendimento que ocuparia espaço de cocheiras

A pressão de parte do quadro social e a desistência de seu principal parceiro, a construtora Odebrecht, pôs uma pedra nos planos da diretoria do Jockey Club Brasileiro de erguer um empreendimento imobiliário no espaço onde hoje funciona a Vila Hípica do clube. Temendo uma enxurrada de ações judiciais movidas pelos descontentes e prejuízos à sua imagem, a empresa desistiu de levar adiante o megaprojeto, que previa a construção de blocos de escritórios, um centro médico e um deck com restaurantes e estabelecimentos culturais, entre outras intervenções.

O anúncio do Jockey Boulevard (como foi batizado o empreendimento), em setembro deste ano, provocou um racha entre os sócios. O projeto colocou em lados opostos, principalmente, os turfistas e os não turfistas. Estes últimos, em sua maioria, defendiam a aprovação do empreendimento, provocando uma série de protestos dos que consideram a Vila Hípica – área das cocheiras – o coração da principal atividade do clube, o turfe.

Em meio à polêmica, que rendeu até ameaças de pedido de impeachment do presidente do clube, Luiz Eduardo da Costa Carvalho, a Odebrecht informou à diretoria que só voltaria a participar da empreitada caso houvesse apoio de uma maioria significativa dos sócios, conforme noticiou ontem Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO. Vencido pelos opositores, o presidente admitiu que, com o recuo do parceiro, o Jockey Boulevard dificilmente sairá do papel:

- Se o dono do projeto retira a proposta, fica muito difícil. Íamos fazer uma assembleia, mas, sem proposta, não há mais o que discutir. Tenho esperança de que o quadro social se manifeste em favor do empreendimento, o que, creio eu, faria a Odebrecht voltar atrás. Sou um eterno otimista, acho que só não há saída para a morte. Agora, qual é (essa saída), não posso responder. A oportunidade que tivemos não é algo em que se tropeça em qualquer esquina.

O projeto apresentado pela construtora incluía ainda salão de convenções, 2.500 vagas subterrâneas, uma passarela de pedestres sobre a Avenida Borges de Medeiros e a derrubada do muro da Rua Jardim Botânico, além da modificação no traçado da reta dos mil metros. O Hospital Veterinário Octávio Dupont – única emergência da cidade para cirurgias em equinos – também seria demolido. O acordo previa uma concessão de 50 anos aos empreendedores, em que o Jockey ficaria com 12,5% da renda bruta. Orçado em R$650 milhões, o Jockey Boulevard foi desenvolvido pela Odebrecht em parceria com a Performance Imobiliária.

A derrota da pretensão de se erguer o empreendimento imobiliário está sendo comemorada por quem acredita que a solução para as finanças do Jockey não pode passar pela demolição das tradicionais cocheiras.

- Espero que, a partir de agora, nenhuma outra diretoria venha a público defender um golpe à tradição do Jockey, alardeando irresponsavelmente que o turfe está agonizando. O próximo passo é lutar pelo tombamento das cocheiras, já que não podemos nos dar ao luxo de ter apenas as tribunas e a pista protegidas pelo Patrimônio Histórico. Em vez de destruir, vamos pensar em incrementar as cocheiras – argumentou o empresário e sócio-turfista há 30 anos, Luiz Fernando Dannemann.

A polêmica chega ao fim depois de três reuniões feitas pela diretoria para explicar às diferentes correntes de sócios o que era o Jockey Boulevard. O presidente do clube apresentou o projeto em dois encontros na sede principal, na Gávea, e em um no prédio do clube no Centro.

- Expusemos a todos que precisamos de novas fontes de recursos. Não sei quais os interesses que estão por trás de quem critica (o projeto), sem apresentar alternativas – lamentou Luiz Eduardo Carvalho.

Procurada pelo GLOBO, a Odebrecht informou, por meio da assessoria de imprensa, que aguardará o quadro social do Jockey resolver suas divergências.

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